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domingo, 12 de dezembro de 2010

APRENDENDO SOBRE O POVO CIGANO



ESTAS SÃO ALGUNS CONHECIMENTOS SOBRE O POVO CIGANO


"Imagina-se, hoje, num acampamento cigano. A fogueira está acesa; a música, a dança, são alegrias nos invadindo. Um tapete grande e colorido é a nossa mesa; em cima dele estão o vinho, o pão, os assados, os quibes, as frutas e os doces que são servidos à vontade.
As ciganas são mulheres de longos cabelos cor de azeviche, derramados pelas costas, e roupas de cores vivas. Os pés descalços parecem lhes permitir saborear o contato com o solo. Os ciganos são vigorosos, com grande sensibilidade e desejo de liberdade total. Seriam capazes de penetrar céu a dentro sempre que lhes aprouvesse deleitar-se com as estrelas à noite. Os ciganos são nômades, sonho de todos os homens num período de suas vidas."
Trecho do livro Mistérios do Povo Cigano - Autores: Ana da Cigana Natasha e Edileuza da Cigana Nazira. Editora: Pallas




A Origem do Povo Cigano

Quando se estuda a origem de um povo, sua formação e desenvolvimento como estrutura social, religiosa, econômica, este estudo se baseia fundamentalmente em documentos ou registros escritos, que ao lado de outros elementos como ruínas da arquitetura da época, pinturas, armas, túmulos, recintos que sugerem ter sido usados como sacros, objetos os mais diversos, especialmente de uso doméstico, recompõem toda a narrativa histórica de um conjunto de indivíduos que habitam a mesma região, ficando subordinados às mesmas leis e partilhando dos mesmos hábitos e costumes. A mais importante fonte de referência, é a narrativa escrita, encontrada em papéis (pergaminhos, papiros, folhas de papel de arroz), documentos, livros, poemas, mapas, inscrições em lugares santos, ou outros locais de devoção considerados sagrados, onde são encontradas marcas de rituais e altares de oferendas aos deuses.

Como o Povo Cigano, não tem até os dias atuais, uma linguagem escrita, fica quase impossível definir sua verdadeira origem. Portanto, tudo o que se disser sobre a origem do Povo Cigano, será baseado em conjecturas, similaridades ou suposições.

A hipótese mais aceita é que o Povo Cigano teve seu berço na civilização da Índia antiga, num tempo que também se supõe, como muito antigo, talvez dois ou três milênios antes de Cristo. Compara-se o sânscrito, que era escrito e falado na Índia (um dos mais antigos idiomas do mundo), com o idioma falado pelos ciganos e encontraram um sem-número de palavras com o mesmo significado.

Outros pontos também colaboram para que esta hipótese seja reforçada, como a tez morena comum aos hindus e ciganos, o gosto por roupas vistosas e coloridas, e princípios religiosos como a crença na reencarnação e na existência de um Deus Pai e Absoluto.

Tanto para os hindus como para os ciganos, a religiosidade é muito forte e norteia muito de seu comportamento, impondo normas e fundamentos importantes, que devem ser respeitados e obedecidos.

Outro fato que chama a atenção para a provável origem indiana do povo cigano, é a santa por quem nutrem o mais devotado amor e respeito, chamada Santa Sara Kali.

Kali é venerada pelo povo hindu como uma deusa, que consideram como a Mãe Universal, a Alma Mater, a Sombra da Morte. Sua pele é negra tal como Shiva, uma das pessoas da Trindade Divina para os indianos (Braman, Vishu e Shiva).

Para os ciganos, Sara, santa venerada, possui a pele negra, daí ser conhecida como Sara Kali, a negra. Ela distribui bênçãos ao povo, patrocina a família, os acampamentos, os alimentos e também tem força destruidora, aniquilando os poderes negativos e os malefícios que possam assolar a nação cigana.

Alguns estudiosos acham a tradução de Kali como a negra não correta, escrevendo inclusive Kali com C (Cali) e não com K e preferem Sara, a cigana, fato que de certa forma pode expressar o preconceito racial (a verdadeira Santa Sara, tinha a pele negra), uma vez que no povo cigano não há negros, ou sob outro ângulo, desconhecimento de todo o aparato místico e de poder que envolve a deusa Kali dos

Oração a Santa Sara

A cigana tem mistério, pois, pois o futuro, tudo entende. Na lua cheia tem sua magia; em seus cristais está sua energia; seu incenso é sabedoria; sua dança é alegria; com suas fitas coloridas tem fama de andarilha. O fogo revela o futuro, o poder, a força da natureza. A violeta é seu perfume. Santa sara é sua padroeira.

"Santa Sara, pelas forças das águas, Santa Sara, com seus mistérios, possa estar sempre ao meu lado, pela força da natureza.
Nós, filhos dos ventos, das estrelas e da Lua Cheia, pedimos à senhora que esteja sempre ao nosso lado; pela figa, pela estrela de cinco pontas; pelos critais que hão de brilhar sempre em nossas vidas. E que os inimigos nunca nos enxerguem, como a noite escura, sem estrelas e sem luar.
A Tsara é o descanço do dia-a-dia, a Tsara é a nossa tenda. Santa Sara me abençoe; Santa Sara me acompanhe. Santa Sara ilumine minha Tsara, para que as pessoas que batem à minha porta eu tenha sempre uma palavra de amor e de carinho. Santa Sara, que eu nunca seja uma pessoa orgulhosa, que eu seja sempre a mesma pessoa humilde."
BEL KARRANO
DEUS-CÉU

O IDIOMA

Uma das maneiras de os ciganos se manterem unidos, vivos, com suas tradições preservadas é o idioma universalmente falado por eles, o romani ou rumanez, que é uma linguagem própria e exclusiva.

É expressamente proibido ensinar o romani para os não-ciganos; e os ciganos fieis às tradições, que prezam sua origem, seus irmãos de raça, que são verdadeiros ciganos, sabem disto. Portanto, quando alguém que se diz cigano quiser ensinar o romani, geralmente às custas de dinheiro, ou então passar segredos e as íntimas particularidades da vida cigana é bom ter cuidado, pois com certeza, ele ou ela não é um autêntico cigano, obediente aos preceitos e princípios de seu povo. Ele poderá ser até cigano de origem, mas não será mais um cigano de alma e coração capaz de manter a honradez de seus antepassados e contemporâneos autênticos.

Uma boa definição da alma cigana:

A Cigana de Vermelho

Ela é uma cigana de vestido rodado. Parece jovem quando o olhar passeia vago sem deter-se em detalhes. Parece alegre, parece rir meio de tudo e de chorar quando as coisas não tem a menor importância. Quando as coisas são grandes e querem provocar melancolia, ela dança, porque o corpo concentrado e largado no ritmo exorciza as dores - pelo menos foi o que me disse. Nem pensei em duvidar.

Conversamos sobre muitas coisas sempre que eu tenho tempo para uma visita. Dentre as coisas que gosta, além da música que é sua alma, estão os cremes, perfumes e rendados xales que ela possa carregar. Nada com peso. E quando conta isso, me olha desdenhosa e francamente como a me dizer que preciso aprender a viver sem os pesos que carrego.

Ela também me disse que sua cor favorita é vermelha. Perguntei se não é um pouco vulgar depois de uma certa idade - ela tem aquele semblante indecifrável de quem tem muitos anos. Mas ela riu - aquele riso sem juízo de quem ainda é criança: vermelho só é vulgar se ele não faz parte de você, se ele não te define, senão é como uma segunda pele, me respondeu. Não ousei contestar.

Eu a vi dançando, rodando as saias (imaginei que eram sete) do vestido, olhar penetrante, atirando a cabeça prá trás desafiando uma platéia imaginária. Nessa tarde fria e opaca, a sensualidade cigana que habita essa mulher iluminou o dia, e a sensação de calor tomou conta da sala que pegamos emprestada para nosso encontro marcado. Ela se transformava enquanto girava e parecia ainda mais livre. Como se isso fosse possível.

Ela me disse que mora na rua, assim mesmo, sem eira nem beira, porque paredes e tetos são prisões dissimuladas. Que muda de lá prá cá e de cá prá lá porque arrancar raízes é dolorido na hora de partir e "as partidas, você sabe, são inevitáveis", confidenciou quase num sussurro. Que tem medo do amor porque ele aprisiona mais que as paredes e os tetos e liberta mais do que as ruas - e quem pode viver num inferno desses - perguntou. Mas não esperou pela minha resposta e foi logo dizendo que não tem um nome porque, se fosse assim, seria uma e ela sabe que é um pouco de cada mulher e que cada mulher aspira um pouco dela.

Chamo-a de cigana, simplesmente, e ela, naturalmente, responde. Um dia pedi que lesse minha mão. Ela se ofendeu. Com que covardia eu esperava que ela tivesse as respostas para minhas perguntas? Com que comodidade eu queria que ela me dissesse que tudo estava definido, determinado e que o destino era um deus?

Tem uma agressividade nela que me instiga a conhecê-la melhor ao mesmo tempo que ela destila suavidade. Perguntei de onde ela vinha, já que dava a entender que nem sempre sabia para onde ia. E quando ela me respondeu "Madrid", percebi que não era só uma cigana.

Ainda que sem endereço, sem rumo e sem nome, ela é espanhola, flamenca e castanholas.

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